segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

OBA, LÍDER DA SOCIEDADE ELEKÔ COMANDA TODAS AS MULHERES GUERREIRAS.

Obá é um dos “orixás femininos” sobre a qual recaiu uma espécie de esquecimento. Todavia, não obstante este fato, ela goza de enorme significado no universo das religiões de matriz africana. Muito pouco se tem escrito sobre a mesma, talvez por ela nos remeter a um mito original que se repete em várias culturas que fala “de um tempo em que o mundo era governado pelas mulheres.”

Em alguns terreiros de candomblé que ainda preservam a figura desse principio ancestral, Obá aparece como uma caçadora. Este fato faz alusão aos primórdios dos grupos humanos que tinham a atividade coletora como principal meio de sustento. Pena que ainda hoje quando retomamos esta imagem, logo nos vem à mente figuras masculinas, contrariando alguns mitos afro-brasileiros que trazem enfaticamente a presença de mulheres a frente de grupos que mais tarde darão origem às grandes civilizações.

Em todos os mitos preservados no Brasil, Obá apresenta-se como caçadora ao lado de outras como Oyá e Iewá, daí a sua ligação direta com Odé, o caçador. Outra imagem que reforça a antiguidade do seu culto é a de que tal orixá também é um rio do mesmo nome que ainda hoje corta uma parte do território iorubá.

Conta-se que, após vários dias de batalha, estando os orixás liderados por Ogum e Oxalá, fragilizados pela guerra, Obá não se contentando em reunir apenas as mulheres de seu tempo, convocou todas as fêmeas do mundo animal. Ao ver Obá chegar rodeada de animais, aquela guerra foi vencida porque os inimigos fugiram de seus postos. Afirma-se nos terreiros que Obá mantém relações profundas com os animais, outra imagem antiga preservada do tempo em que os primeiros grupos humanos acreditavam encantá-los através de seus desenhos. O tempo em que os caçadores e caçadoras confundiam-se com a própria caça.

O culto a Obá é ainda hoje cercado de mistério. Mistério velado pelas cores escuras, representadas pelo vermelho encarnado que compõem seus elementos rituais nas poucas vezes em que aparece. Em alguns terreiros de tradição jeje nagô, a cantiga que diz “Obá, líder da sociedade Elekô comanda todas as mulheres guerreiras”, inicia a seqüência de músicas que dentre outras coisas, lembra a sua importância como representante das mulheres como caçadora, chamando para si funções sociais, políticas, culturais e religiosas.

Em outras palavras, Obá, além de desempenhar um papel como desbravadora, cabia a ela defender o grupo, o protegendo em todos os sentidos, fomentar seu sustento e garantir a sua integridade política.

Os caçadores eram ainda médicos, mágicos, verdadeiros entes divinos que sabiam que da relação de sua comunidade com os ancestrais dependia a sua permanência no mundo. Daí a expressão: “Obá Elekô”. Elekô, a exemplo de muitas outras sociedades secretas, era uma espécie de “maçonaria de mulheres”, que dentre outras funções, zelava pela preservação da relação entre estas e a terra, para alguns grupos humanos, a grande mãe ancestral.

Pena que apenas persistiu dentre nós, fragmentos de uma história que diz ter sido Obá enganada por uma das mulheres de Xangô que a teria induzido cortar uma de suas orelhas. Acho mesmo que a imagem da orelha cortada por Obá neste mito é menos importante do que aquilo que considero tema principal: o amor.

Obá é símbolo do amor, esse principio universal que por mais esforço já se tenha feito para traduzi-lo através das poesias, das filosofias, das religiões e recentemente da ciência, ainda é um mistério, talvez por ser ele um dos mais divinos.

Gosto muito da história que diz que certa ocasião muito triste por ter perdido um de seus filhos, uma mulher adentrou-se na mata e pediu a Obá que o trouxesse de volta. Adormecida na floresta, a jovem sonhou com sementes que lhes eram trazidas por um enorme pássaro. Acordada do sono, a mulher foi procurá-las. Chegando a beira de um rio, mal pode conter a sua alegria ao deparar-se com as sementes que a noite havia sonhado, ao mesmo tempo em que se deu conta de que, era ela mesma o pássaro que a noite havia visto em sonho. Das sementes plantadas pela mulher arrebentou uma planta que se transformou numa árvore de tronco escuro a partir da qual a humanidade melhor podia se representar, trazendo presente na forma de esculturas seus antepassados: o ébano.

Obá, dessa maneira é a “verdadeira deusa do ébano”, não somente da madeira escura, de brilho natural que tanto nos representa através das mãos dos artistas africanos, mas a verdadeira “deusa negra” presente em todas as mulheres, nossas irmãs e mães que hoje mais do que nunca vão ao enfrentamento para defender a sua dignidade através da garantia da integridade de seus filhos. Mulheres que embora tenham conquistado espaços nas sociedades contemporâneas ainda são aquelas mais estigmatizadas, violentadas e que tem seus direitos menos respeitados. Mulheres que como Obá amam, e por isso vão a luta pelos seus sonhos e são capazes não apenas de liderar quilombos, revoltas armadas, greves, movimentos sociais, mas grupos inteiros pois assim foi desde o inicio quando Obá saiu à frente convocando todas as mulheres para reconquistar o mundo.
Mãe Eline de Obá -Minha Mãe

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Ipeté de Oxum






Lenda do Ipeté de Oxum

Oxum encontrava-se com problemas no ventre e isso lhe causava dificuldades para engravidar, Mas era do desejo de Oxum engravidar; Diante dessa dificuldade ela decide consultar Orunmilá.
Orunmilá diante do problema de Oxum lhe ofereceu uma ajuda, Indagando que ela deveria seguir um preceito e nesse preceito ela deveria oferecer comida a todas as Oxuns, todas as irmãs; Oxum lhe disse que era impossivel, pois cada uma comia uma coisa e sem muito pensar Orunmilá lhe respondeu:
- Se esforce, tens que criar um prato onde todas irão comer!
Oxum então responde:
- Mas como?
Orunmilá de pronto lhe responde:
- Você procurar uma estrada que parece não ter fim, caminhará e caminhará, algum tempo depois encontrará um homem que lhe presenteará com um fruto!
Oxum ficou meio desconfiada, mas era a única maneira de se livrar do problema. então Oxum no primeiro raiar do sol, no dia seguinte, Saiu a procura dessa estrada, passou por matas, rios, caminhos de pedras e ventanias.. Mas no fim encontrou a estrada, e tornou-se a caminhar, parou e descansou, mas voltou a caminhar… Até que avista um homem, parado na estrada, esse Homem era Ogún.
Ogún ficou espantado de ver Oxum alí, pois todos sabiam que oxum não saía de seus rios pra quase nada, ficava sempre no rio esperando os presentes e se banhando… Ela não gostava de sair de seu palácio de águas e naquele momento ela estava alí em uma estrada quente e sem acomodação! Com esse espanto de Ogúm ele lhe pergunta:
- O que lhe traz aquí Oxum?
E Oxum conta a Ogún o que lhe passava. Então Ogún vai até a beira da estrada e colhe um fruto chamado Ixú e entrega a Oxum e lhe diz para preparar uma comida chamada Ipeté, a comida que acalma! e que entregasse às suas irmãs.
Oxum lhe pergunta:
- O que quer em troca?
E Ogún muito encantado com a beleza de Oxum lhe responde:
- Nada! Você só terá apenas que sustentar sobre o seu Orí e sob a panela de Ipeté a folha de Abre-Caminho, e não esqueças de acomodar todos os Okutas de suas irmãs sobre o Ipeté.
Oxum ouviu atentamente as recomendações de Ogún e seguiu as suas orientações; pouco tempo depois nascia Logún-edé (O filho querido de Oxum).
“A partir desse Itán, Todos os anos é servido em ritual a comida Ipeté à Oxum, e abaixo da panela dessa comida e colocado as folhas de Abre-Caminho, sem esquecer de acomodar os Okutás sob o Ipeté. Também não podemos esquecer que por causa dessa lenda, o Único Orixá Oboró (homem) que pode carregar a panela de Ipeté é Logún-Edé…”

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O Nascimento do 17º Odú de Ifá

Essa história revela o nascimento do 17o. Odù, como e de onde nasceu Òsetùwá,
 Orúnmìlà chegou, apresentando  seus agravos a Olódumàrè,falando sobre todas as sortes e infortúnios que a terra estava passando, e queria saber porque nenhuma oferenda realizada pelos Orixás estava sendo recebida por Olodumarè, diante do exposto,  Olódumàrè lhe disse que deveria ir e chamar a décima sétima pessoa entre eles e levá-la a participar de todos os sacrificios a serem oferecidos. Porque, além disso, não havia nenhum outro conhecimento que Ele lhes pudesse ensinar senão as coisas que Ele já lhes havia dito.Quando Orúnmìlà voltou à terra, reuniu todos os òrìsà e lhes transmitiu o resultado de sua viagem.Chamaram Òsun e lhe disseram que ela deveria segui-los por todos os lugares onde deveriam oferecer sacrificios. Mesmo na floresta de Eégún. Òsun recusou-se: ela jamais iria com eles. Começaram a suplicar a Òsun e ficaram prostrados um longo tempo. Todos começaram a homenageá-la e a reverênciá-la. Òsun os maltratava e abusava deles.  Era o sétimo dia, quando Òsun se apaziguou. Então eles disseram que viesse. Ela replicou que jamais iria, disse, entretanto, que era possível fazer uma outra coisa já que todos estavam fartos dessa história.Disse que se tratava da criança que levava no seu ventre. Somente se eles soubessem como fazer para que ela desse à luz uma criança do sexo masculino, isso significaria que ela permitiria então que ele a substituísse e fosse com eles. Se ela desse à luz uma criança do sexo feminino, podiam estar certos que esta questão não se apagaria em sua mente. Ficariam aí, pedaços, pedaços, pedaços. E eles deveriam saber com certeza que esta terra pereceria; deveriam criar uma nova. Mas se ela desse a luz a um filho-homem, isso queria dizer que, evidentemente, o próprio Olórun os tinha ajudado.Assim apelou-se para Òrìsàlá e para todos os outros òrìsà para saber o que deveriam fazer para que a criança fosse do sexo masculino. Disseram que não havia outra solução a não ser que todos utilizassem o poder - àse - que Olódumàrè tinha dado a cada um deles; cada dia repetidamente deveriam vir, para que a criança nascesse do sexo masculino, Todos os dias iam colocar seu àse - seu poder - sobre a cabeça de Òsun, dizendo o que segue."Você Òsun ! Homem ele deverá nascer, a criança que você traz em si!" Todos respondiam "assim seja", dizendo "tó!" acima de sua cabeça...Assim fizeram todos os dias, até que chegou o dia do parto de Òsun. Ela lavou a criança. Disseram que ela deveria permitir-lhes vê-la. Ela respondeu "não antes de nove dias". Quando chegou o nono dia, ela os convocou a todos. Esse era o dia da cerimônia do nome, da qual se originaram todas as cerimônias de dar o nome. Mostrou-lhes a criança, e a pôs nas mãos de Òrìsà. Quando Òrìsàálá olhou atentamente a criança e viu que era um menino, gritou: "Músò"...! (hurra...!). Todos os outros repetiram "Músò".....! Cada um carregou a criança, depois o abençoaram. Disseram "somos gratos por esta criança ser um menino". Disseram "que tipo de nome lhe daremos". Òrìsà disse: "vocês todos sabem muito bem que cada dia abençoamos sua mãe com nosso poder para que ela pudesse dar à luz uma criança do sexo masculino, e essa criança deveria justamente chamar-se À-S-E-T-Ù-W-Á (o poder trouxe ela a nós)" Disseram: "acaso você não sabe que foi o poder do àse, que colocamos nela, que forçou essa criança a vir ao mundo, mesmo se antes ela não queria vir à terra sob a forma de uma criança do sexo masculino? Foi nosso poder que a trouxe à terra". Eis por que chamaram a criança de Àsetùwà.Quando chegou o tempo, Orúnmìlà consultou o oráculo Ifá acerca da criança, porque todos devem conhecer sua origem e destino, colheram o instrumento de Ifá para consultá-lo. Eles o manipularam e o adoraram. Era chegado o momento de consultar Ifá a respeito dele, para saberem qual era seu Odù, para que o pudessem iniciar no culto de Ifá. Levaram-no à floresta de Ifá, que chamamos Igbódù, onde Ifá revelaria que Òsè e Òtùá eram seu Odù. Este foi o resultado que ele deu a respeito da criança. Orúnmìlà disse: "a criança que Òsè e Òtùá fizeram nascer, que antes chamamos de Àsetùwá", disse, "chamemo-la de Òsètùá". Foi por isso que chamaram a criança com o nome do Odù de Ifá que lhe deu nascimento, Òsètùá.Àsetùá era o nome que ele trazia anteriormente. Assim, a criança participou do grupo dos outros Odù, ao ponto de ir com eles a todos os lugares onde se faziam oferendas na terra. Foi assim que todas as coisas que Olódùmàrè lhes tinha ensinado deixaram de ser corrompidas. A própria Òsun deu a essa criança um nome nesse dia. Disse ela: "Osó a gerou (significando que a criança era filho do poder mágico), porque ela mesma era uma ajé e a criança que ela gerou é um filho homem. Disse ela: "Akin Osò", (Akin Osò: poderoso mago; homem bravo dotado de um grande poder sobrenatural) eis o que a criança será ! É por isso que eles chamaram Òsetùá de Akin Osò, entre todos os Odù Ifá e entre os dezesseis òrìsà mais anciãos. Depois eles disseram que em qualquer lugar onde os maiores se reunissem, seria compulsório que a criança fosse um deles. Se não pudessem encontrar o décimo sétimo membro, não poderiam chegar a nenhuma decisão, e se dessem um conselho, não poderiam ratifica-lo. Foi assim que Òsetùá converteu-se no entregador de oferendas para Èsù. Èsù Òdàrà, foi assim que ele se converteu em O portador de oferendas para Olódumàrè, Èsù Òsijé-Ebó.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Oriki Ati Logun Edé

      
"AWO NBE O, AWO NBE O....ARA NBE O, ARA NBE O"
Eis o iniciado, o forte, eis o misterioso, aqui se fez o milagre!


Ganagana bi ninu elomi ninu
A se okùn soro èsinsin

Tima li ehin yeye re
Okansoso gudugu
Oda di ohùn
O ko ele pé li aiya
Ala aiya rere fi owó kan
Ajoji de órun idi agban
Ajongolo Okunrin
Apari o kilo òkò tímotímo
O ri gbá té sùn li egan
O tó bi won ti ji re re
A ri gbamu ojiji
Okansoso Orunmila a wa kan mà dahun
O je oruko bi Soponna
Soro pe on Soponna e nià hun
Odulugbese gun ogi órun
Odolugbese arin here here
Olori buruku o fi ori já igi odiolodi
O fi igbegbe lù igi Ijebu
O fi igbegbe lú gbegbe meje
Orogun olu gbegbe o fun oya li o
Odelesirin ni ki o wá on sila kerepa
Agbopa sùn kakaka
Oda bi odundun
Jojo bi agbo
Elewa ejela
O gbewo li ogun o da ara nu bi ole
O gbewo li ogun o kan omo aje niku
A li bilibi ilebe
O ti igi soro soro o fibu oju adiju
Koro bi eni ló o gba ehin oko mà se ole
O já ile onile bó ti re lehin
A li oju tiri tiri
O rí saka aje o dì lebe
O je owú baludi
O kó koriko lehin
O kó araman lehin
O se hupa hupa li ode olode lo
Òjo pá gbodogi ró woro woro
O pà oruru si ile odikeji
O kó ara si ile ibi ati nyimusi
Ole yo li ero
O dara de eyin oju
Okunrin sembeluju
Ogbe gururu si obè olori
A mò ona oko ko n ló
A mo ona runsun rdenreden
O duro ti olobi kò rà je
Rere gbe adie ti on ti iye
O bá enia jà o rerin sún
O se adibo o rin ngoro yo
Ogola okun kò ka olugege li òrùn
Olugege jeun si okurú ofun
O já gebe si orún eni li oni
O dahun agan li ohun kankan
O kun nukuwa ninu rere
Ale rese owuro rese / Ere meji be rese
Koro bi eni lo
Arieri ewo ala
Ala opa fari
Oko Ahotomi
Oko Fegbejoloro
Oko Onikunoro
Oko Adapatila
Soso li owuro o ji gini mu òrún
Rederede fe o ja kùnle ki agbo
Oko Ameri èru jeje oko Ameri
Ekùn o bi awo fini
Ogbon iyanu li ara eni iya ti n je
O wi be se be
Sakoto abi ara fini

 Tradução
Um orgulhoso fica infeliz que um outro esteja contente
É difícil fazer um corda com as folhas espinhosas da urtiga
Montado de cavalinho sobre as costas de sua mãe
Ele é sozinho, ele é muito bonito
Até a voz dele é agradável
Não se coloca as mãos sobre o seu peito
Ele tem um peito que atrai as mãos das pessoas
O estrangeiro vai dormir sobre o coqueiro
Homem esbelto
O careca presta atenção à pedra atirada certeiramente
Ele acha duzentas esteiras para dormir na floresta
Acordá-lo bem é o suficiente
Nós somente o vemos e o abraçamos como se ele fosse uma sombra
Somente em Orunmila nós tocamos, mas ele não responde
Ele tem um nome como Soponna /
É difícil alguém mau chamar-se Soponna
Devedor que faz pouco caso
Devedor que anda rebolando displiscentemente
Ele é um louco que quebra a cerca com a cabeça
Ele bate com seu papo numa árvore Ijebu
Ele quebrou sete papos com o seu papo
A segunda mulher diz ao papo para usar um pente (para desinchar o papo)
Um louco que diz que o procurem lá fora na encruzilhada
Aquele que tem orquite ( inflamação dos testículos) e dorme profundamente
Ele é fresco como a folha de odundun
Altivo como o carneiro
Pessoa amável anteontem
Ele carrega um talismã que ele espalha sobre o seu corpo como um preguiçoso
Ele carrega um talismã e briga com o filho do feiticeiro dando socos
Ele veste boas roupas
Com um pedaço de madeira muito pontudo ele fere o olho de um outro
Rápido como aquele que passa atrás de um campo sem agir como um ladrão
Ele destroi a casa de um outro e com o material cobre a sua
Ele tem olhos muito aguçados
Ele acha uma pena de coruja e a prende em sua roupa
Ele é ciumento e anda "rebolando" displicentemente
Ele recolhe as ervas atrás
Ele recolhe as ervas atrás
Ele anda "rebolando" desengonçado para ir ao pátio interior de um outro
A chuva bate na folha de cobrir telhados e faz ruído
Ele mata o malfeitor na casa de um outro
Ele recolhe o corpo na casa e empina o nariz
O preguiçoso está satisfeito entre os passantes
Ele é belo até nos olhos
Homem muito belo
Ele coloca um grande pedaço de carne no molho do chefe
Ele conhece o caminho do campo e não vai lá
Ele conhece o caminho runsun redenreden
Ele está ao lado do dono dos obi e não os compra para comer
O gavião pega o frango com as penas
Ele briga com qualquer um e ri estranhamente
Ele tem o hábito de andar como a um bêbado que bebeu
Sessenta contas não podem rodear o pescoço de um papudo
O papudo come no inchaço de sua garganta
Ele quebra o papo do pescoço daquele que o possui
Ele dá rapidamente crianças às mulheres estéreis
Ele guarda seus talismãs numa pequena cabaça
A noite coisa sagrada, de manhã coisa sagrada /
Duas vezes assim coisa sagrada
Rápido como alguém que parte
A proibição do pássaro branco é o pano branco
Ele mexe os braços fantasiosamente
Marido de Ahotomi
Marido de Fegbejoloro
Marido de Onikunoro
Marido de Adapatila
Bem desperto, ele acorda de manhã já com o arco e flecha no pescoço
Como um louco ele se debate para colocar os joelhos no chão, como o carneiro
Marido de Ameri que dá mêdo
Leopardo de pele bonita
Ele expulsa a infelicidade do corpo de alguém que tem infelicidade
Assim ele diz e assim ele faz
Orgulhoso que possui um corpo muito belo

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Um pouco da história de Misael de Oyá



O jornal Folha do Norte fonte de análise, pois este era o meio
de comunicação de maior prestígio em Feira de Santana nas primeiras décadas do século XX,traz uma breve descrição da figura de Misael,nas palavras do Poeta e colunista Aloysio Resende,sobre a admiração deste negro com identidade africana e de muito saber cultural dentro da tradicional reliião a que nós cultuamos. segue o texto segundo , (OLIVEIRA, 2000:110) .
" Numa dessas noites, embebido pelo
álcool é bem provável que Resende tenha se recordado um de seus momentos no terreiro com
um filho de santo chamado Misael, sobre o qual o autor ressaltava sua habilidade na função
religiosa de realizar sacrifícios, batucar instrumentos de cultos, pronunciar palavras na língua
angolana e ainda conquistar mulheres. Escreveu ele:

Pegi-gan
Sob o céu a luzir, Misael abre o peito
Forte e clara vibrando a voz no ago-lô-nan.
Salva o terreiro amigo o moço pegi-gan,
Num dialeto africano esquisito e perfeito.
Nas rodas da macumba, até agora está só,
Crioulo bom no tocar, crioulo bom no cantar.
Coração de mulher tu sabes amarrar,
Crioulo de fato e lei, nos mistérios do ebó.
Calça branca lustrosa e camisa de lista,
Da garganta de bronze a voz potente rola,
Saudando os orixás, em língua de Angola,
No barracão não há cabroxa que resista.
Já fizeste uma vez, vaidosa orixafi,
Tu que gostas de sangue e que trazes mocan,
E que pisas em brasa em louvor de Iansã,
De feitiço morrer doida de amor por ti.
Dentro da noite branca a tua voz maltrata
E fere o peito de alguém que de ti afeiçoa,
Crioulo mau no dendê, teu canto além ressoa,
Para orgulho talvez de faceira mulata.
Tu pareces até que tem parte com Exu,
Negro da tentação, negro bom de verdade,
Vais deixar ao partir, um pouco de saudade,
Nesta terra ideal de Nanan-burucu.
(Pegi-gan, Folha do Norte, 26 ago. 1939, n.º 1572:04)
O cotidiano acima descrito de forma tão poética era comum para Aloisio Resende. Ele apresentava o sentimento de Misael por uma “cabrocha” nas “rodas de macumba” que “não tinham hora para acabar”.
O Saudoso Babalaxé Misael de Oyá,nasceu em Cachoeira em 07 de Março de 1913 e em parte foi responsável pelo Axé na casa de Logunedé,comandada pela sra.Yalorixá Hildete Almeida " Mãe Dete ",há também um recorte de jornal da década de 30 onde o Poeta e colunista Aloysio Resende faz nova menção as qualidades de Misael,desta vez como pessoa de muita qualificação dentro do Candomblé.

Logun Edé



Na Nigéria, a cidade de Logun Edé chama-se Ilexa e é uma das mais ricas e prósperas da África, anualmente fazem encontros com vários festivais vindo pessoas de toda as partes da África.
Na África negra, dizem que Logun Edé seria na verdade Ólògún Ode – o guerreiro caçador – o maior entre todos os caçadores, pai de todos eles, inclusive de Oxóssi. Os cânticos de Oxóssi, encontram-se expressões como Omo ode, ou seja, filho do caçador,podendo inferir certa lógica nas histórias contadas pelos africanos,onde ele tem sua ligação com Ogun , mas precisamente com Ogun Waris.
Logun Edé pertence ao panteão dos caçadores, é único, não tem qualidade, por isso só pode existir um iniciado numa casa de candomblé,contudo,isto hoje é um pouco difícl de controlar,pois existem casas ou Terreiros que insistem em passar por cima da Tradição Yorubá.

Muita coisa estranha ou inconclusiva é dita sobre Logun Ede, e ainda assim há pouca informação, seja séria ou não, sobre essa divindade. Esse texto tem o intuito de reunir algumas informações diferentes das que comummente circulam sobre esse Orixá.

Esta foto tirada por Verger mostra uma sacerdotisa de Logun que porta na mão direita uma espada cerimonial de bronze utilizada no século 19 por mulheres em suas danças. Na mão esquerda está o ofá/arco e flecha.
Um mito muito difundido no Brasil conta o seguinte:
De Òsun, sua mãe, Logun Ede herdou o lado belo e vaidoso. Pois Òsun lança mão de seu dom sedutor para satisfazer a ambição de ser a mais rica e a mais reverenciada. Deusa da fertilidade, na Nigéria é dela o rio que leva o seu nome e no Brasil dela são as águas doces dos lagos, fontes e rios. Água que mata a sede dos humanos e da terra, que assim se torna fecunda e fornece os alimentos essenciais à vida. Òsun menina dengosa, passando pela mulher irresistível até a senhora protetora, Òsun é sempre dona de uma personalidade forte, que não aceita ser relegada a segundo plano, afirmando-se em todas circunstâncias da vida. Com seus atributos, ela dribla os obstáculos para satisfazer seus desejos.
De Erinlé, seu pai, Herdou o dom da caça pois Erinlé é da família dos Ode e seu símbolo é o ofá, a lança de caça e o ogue. Erinlé é a representação do desenvolvimento do homem, conhece os segredos da caça, também símbolo de prosperidade e formação de comunidades. Ele busca o alimento com coragem e é considerado o guerreiro das matas, é corajoso, viril e Logun-odé tem estas características, é um Òrìsà guerreiro. Mas se, em várias tradições, ele é considerado um orixá masculino, em algumas é confundido com a homossexualidade ou a bissexualidade, o que ocorre quando se interpreta ao pé da letra o mito que afirma viver Logunedé seis meses como homem e seis meses como mulher. Na verdade, a interpretação mais aceita seria que essa se trata de uma metáfora para falar dos axés herdados por ele de seus pais, Oxum e Oxóssi.
Após ser abandonado e viver com Ogum, aprende com ele as artes da guerra e da metalurgia. É coroado por Iansã como o príncipe dos Orixás. É amigo íntimo de Yewá, seriam eles os Orixás que se complementam, considerados o par perfeito.
Num mito raro, Logunedé se perde no caminho entre as casas de Oxum e Oxóssi, é encontrado pelo velho Omolu que o ampara e protege. Com Omolu, Logunedé aprende a arte da cura e a feitiçaria. O seu primeiro nome, Logun, no Brasil se mesclou ao segundo, Edé, nome da cidade iorubá na qual o seu culto se fortaleceu, formando Logunedé. Logun pode ser uma abreviatura de Ologun que, em iorubá, quer dizer feiticeiro.
Então, feiticeiro, caçador, pescador, príncipe guerreiro, esses são alguns títulos, alguns epítetos dados à Logunedé. Para Mãe Menininha do Gantois"Logun é santo menino que velho respeita".



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